O FUTURO DAS REVISTAS



Banca de revista sempre foi um dos meus lugares preferidos da vida, mas dias desses fiquei triste quando sai de uma. Não é só a tristeza de quem queria morar entre revistas e não pode, ou então a tristeza assustada por estar vendo de camarote uma calorosa discussão que rolava em frente da banca, entre um rapaz e uma senhora que tentavam chegar em um acordo depois de uma batida de carro. É a tristeza de quem vê que talvez o fim das revistas e das bancas que são raridades por aqui, esteja mais perto do que a gente imagina.


Sou frequentadora assídua de bancas. Eu adoro! Revista é o meu veículo de comunicação preferido há muitos anos. Até o cheirinho da folha me deixa feliz. É uma mídia bem acessível. Além de encontrar no paraíso das bancas,  é possível comprar em supermercados, varejão e até mesmo em farmácia. Não é incrível? Quando eu estava na faculdade, eu já amava, mas constatei que era isso que queria fazer pro resto da vida depois que descobri a beleza de um texto literário. Foi amor a primeira escrita.

Pelo menos uma vez por mês eu compro uma revista; vou variando os títulos para ter acesso a várias. Essa é uma forma que encontrei de conhecer e aprender um pouco desse mundo que faz parte da minha vida desde sempre. 

Quando eu era criança,  lembro de ir em centros de distribuição de revistas com a minha tia que trabalhava em uma banca em Cuiabá(MT). Ainda me lembro o cheiro de papel que tinha esses lugares. Eu tinha acesso a todos os tipos de revistas. Recordo, com clareza, de ver sobre a morte do Ayrton Senna que estampava as principais publicações da época. Eu nem sabia ler direito, mas adorava folhear. Quando nos mudamos para Uberaba, minha mãe presentou minha irmã e eu com assinaturas da Carícia e Capricho, que eram as mais importantes revistas teen da década de 90.  Esse presente durou anos e anos. A gente ficava contando os dias pro rapaz da moto passar e deixar nossas edições. Além das revistas, vez ou outra vinha uns brindes para assinantes como cartela de adesivos, cartões, fitas VHS com clipes, posteres e uma infinidade de inutilidades que a gente amava.

Na minha adolescência as bancas de revista eram points. Pelo menos uma vez por semana eu estava  por lá. Quando não ia, minha mãe - que trabalhava em frente a uma - trazia. Perdi a conta de quantos reais deixei nesses lugares. Foi folheando uma dessas milhares de revista que decidi e verbalizei que queria ser jornalista. Passou a ser um sonho que meu nome aparecesse impresso em uma dessas publicações que falavam de assuntos tão diversos e interessantes.

Por esses dias, vi que a Ruth Manus - cronista fantástica -  ia estrear uma coluna na revista Glamour. Decidi então que este seria o título do mês. Eu adoro os textos da Ruth e adoro a Glamour. Seria juntar o útil ao agradável.

Fui na mesma banca que tenho ido nos últimos tempos, que aliás é uma das poucas que resistiram por aqui. Quando peguei a revista na mão, estranhei. Acho que tinha uns seis meses que não comprava a Glamour. Logo perguntei para o jornaleiro se aquela era a edição normal ou alguma especial, afinal, estava mais fina, com menos páginas. A resposta dele foi desanimadora. Disse que tinha uns meses que estava assim. Paguei a revista e segui pensando sobre. No caminho dei uma folheada em busca da coluna da Ruth e ver uma revista que era recheada de conteúdo, assim, tão fina, me deixou pensativa.

Não faz muito tempo que a gente viu a editora Abril encerrar alguns títulos que eram bem populares. Ver o fim da Cosmopolitan Brasil (antiga revista Nova'), por exemplo, foi bem ruim. Era uma das minhas preferidas num todo, do conteúdo a diagramação. Lastimei na mesma intensidade que lamentei o fim impresso da Capricho, em 2015.

A verdade é que com conteúdo online, a procura por esse material diminuiu e anunciar nesse meio, talvez,  não seja mais tão interessante para as marca, por conta do alcance. Logo, sem dinheiro, nenhuma empresa funciona.  O mundo muda, os hábitos mudam, os leitores mudam e as mídias precisam mudar também. Não sou dessas que acreditam que o impresso vai acabar totalmente, mas quando peguei a revista e percebi que ela tinha diminuído pela metade, eu senti. Senti muito! 

Junto com o sonho de ter meu nome impresso embaixo de uma matéria feita por mim (que eu já realizei, mas que ainda desejo estar em uma dessas importantes publicações), o de trabalhar em uma grande redação vive aqui. Gosto tanto dessa mídia que vez ou outra me pego com uma revista em mãos e pensando: "Nossa, eu queria ter feito essa matéria" ou então "Acho que eu faria isso até de graça!" - Bom, eu sou capricorniana e pra fazer algo de graça assim, é porque seria mesmo muito importante. Não sei nem se isso faz algum sentido. 


Uma revista que diminui o conteúdo, diminui também a publicidade, a quantidade de profissionais envolvidos, a redação, e claro, aumenta o valor. Nem todo mundo está disposto a pagar por um conteúdo que pensam encontrar na internet de graça. 


Acredito muito na transformação e que o jornalismo precisa acompanhar, mas sempre quando há encerramentos ou que algo que eu gosto tanto parece fragilizado, fico na bad. O prazer de folhear uma revista não é, nem de longe, o mesmo de arrastar o dedo na tela do celular. 

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