FAZENDO AMIGOS NO UBER

Se tem uma coisa que eu fiz neste ano foi andar de Uber. Entre idas e vindas, de maio a dezembro, fiz mais de 70 solicitações pelo aplicativo para destinos pessoais ou de trabalho. Claro que desde que uso o aplicativo deve ter ultrapassado as 100 chamadas, mas é que o aplicativo só disponibilizou este período. Daí que o Uber mandou um e-mail me contando que eu uso o aplicativo há 679 dias, quase dois anos. Só em 2018, andei 232 quilômetros com eles, totalizando 596 minutos, que daria pouco mais que nove horas.
Eu adoro! Se tem uma coisa prática que veio pra facilitar a vida de quem não dirige (e nem tem intenção), essa coisa é o Uber. Já falei em outras oportunidades que ter um carro ou aprender a dirigir não está em meus planos pra tão logo. Pode ser que eu mude de ideia? Pode! Mas por enquanto, é isso. Não desmerecendo os taxistas, mas nada mais na mão do que essa praticidade que a tecnologia nos oferece, e por um preço bem justo.

Nessas andanças, conheci muita gente legal. Sou dessas que entro no carro e dou canseira para os motoristas do tanto que converso. Qualquer viagem fica menos chata quando há interação, isso é fato. Falo de tudo, do tempo, das regras do Uber, de série, de notícias, de política (eita!), da vida. Vixi! É assunto que não acaba mais. 

Entre esses motoristas, o Uanderson foi um dos mais engraçados. Pensa numa pessoa alto astral e feliz com o trabalho? Então, é ele. Divertido, energia máxima e que adora série. No trajeto falamos sobre nossos episódios preferidos de Black Mirror e ele, claro, falou que eu tinha que dar uma pausa nas que eu estava assistindo para ver Breaking Bad, com urgência. Ainda não assisti, mas coloquei na lista.

Quando voltei do lugar que o Uanderson tinha me deixado, fiz outra chamada e quem veio foi a Jandra. Foi a minha segunda corrida com ela. Maravilhosa! Aproveitei e contei o quanto tinha ficado empolgada na minha primeira viagem, já que é muito raro vir uma mulher quando é feito a chamada. Ela me contou que os irmãos também trabalham com o Uber e que ela não roda a noite, por questão de segurança. Disse que se o usuário tivesse a opção de escolher motorista homem ou mulher, que não teria vez para os homens, uma vez que elas passam muito mais segurança. Está certíssima! 

Outro motorista que marcou foi o senhor Edgar. Salvadoreño que mora aqui em Uberaba há alguns anos. Claro que o sotaque me fez perguntar como ele tinha vindo parar aqui. Em resumo, me contou que veio de El Salvador há muitos anos, talvez, mais do que tenho de idade. Veio pro Brasil por conta de uma crise econômica e aqui conheceu o amor da vida e decidiu nunca mais voltar. A mulher dele é mestre em fisioterapia e professora na Universidade Federal daqui, o filho ia se formar em Medicina agora no final do ano e o sonho dele era morar na praia. Me contou que é engenheiro aposentado e trabalha como Uber porque estava ficando depressivo em casa. Que conversa mais boa! Desci do carro falando que ia torcer para que ele convencesse a mulher que morar no litoral era um bom negócio. Tomara que tenha dado certo.

Um dos últimos que chamei neste ano foi o Sherley. Um senhor de São Paulo que ama Uberaba mais do que muita gente que nasceu aqui. Mais do que eu, inclusive. Sherley me contou que, apesar de ser mineiro de coração, detesta pão de queijo, mesmo sem nunca ter comido um. Contou também que tem descendência italiana e que o sobrinho conseguiu achar pela internet, um parente na Itália, dono de uma vinícola, primo de segundo ou terceiro grau, não lembro. Falou com muito orgulho da irmã, formada em Administração, muito bem sucedida e que hoje, viaja duas vezes por ano com o marido pra algum lugar do mundo. Achei chique de doer. Minha meta de vida.

E foram tantos outros. Teve o Lucas que faz letras, que sonha em ser jornalista, mas que antes ia fazer um curso de comissário de bordo. Lembro bem de outro Lucas, só que esse veio de São Paulo. Eu sabia que o motorista não era daqui quando entrei no carro. Perguntou da regulagem do ar condicionado, se eu aceitava água, bala, se tinha preferência de música. Não estamos acostumados com isso. Apesar do bom atendimento aqui, o que é oferecido é sempre o básico do básico. Lucas me contou que trabalhou em uma multinacional em SP por anos, e que veio pra cá depois de ser demitido, em busca de uma vida mais tranquila, longe da loucura da metrópole. Ele mora em um bairro rural próximo e garantiu que não existe vida melhor que acordar com o som dos passarinhos.

Teve também o senhor Damásio que disse que não gosta quando o passageiro é muito calado, que se sente incomodado. Nosso papo foi em torno da história de uma moça que saiu bêbada e chorando de uma festa por causa de um cabra safado (palavras dele!). Me disse que é um absurdo perder a diversão pra ficar chorando por causa de homem. Um sábio!

Claro que também tem uns estranhos tipo um rapaz que falou que era a primeira corrida dele como motorista do Uber e pediu meu WhatsApp pra cadastrar no sistema do aplicativo (não passei, claro!). Depois fui olhar no aplicativo e ele tinha feito mais de 200 corridas. Estranhíssimo, eu diria. Teve outro também que ficou insistindo que me conhecia de uma empresa, e eu não faço ideia nem da localização de tal.

Tem também os que abrem a boca só pra falar o valor final. É compreensível, afinal, o número de corridas em um dia deve ser absurda, e tem uma hora que cansa, o assunto acaba, o cansaço bate. Ou ainda é só a opção em ficar calado. Tem gente que não gosta dessa falação.  Tem muitas outras histórias, muitas, e a maioria eu nem sei como foi que chegamos no assunto.  

Fico feliz quando o motorista me trata com simpatia. Não é muito difícil, acontece sempre, acho que pela quantidade de chamadas que eu faço. Considerando que o trabalho de um Uber não deve ser o mais fácil - lidar com gente é difícil e passageiro mal humorado deve ter de monte - é bom a gente perceber que há tantas pessoas que nos inspiram a ser um pouco melhor, seja pelas histórias que conta, pela forma que nos trata ou até mesmo pelo 'Fica com Deus' que pode mudar nosso dia. 

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