APESAR DE TERMOS FEITO TUDO QUE FIZEMOS


Cresci ouvindo que futebol, religião e política não se discute. Assuntos proibidíssimos em qualquer roda de conversa. Quando entrei na faculdade, descobri, com a ajuda dos meus professores maravilhosos, que a história não é bem assim. Há espaço e possibilidade para debater qualquer assunto. Qualquer assunto mesmo. Aprendi que política não é só o que nos é apresentado durante o período eleitoral. Tudo é política.

Quando passei a ter mais noção disso, entendi também a importância da militância que defende ativamente uma causa. Há tantas que precisam de barulho para que sejam reconhecidas e respeitadas. Não é triste que, em pleno século 21, ainda seja preciso batalhar, ir às ruas e levantar bandeiras pelos direitos da minoria? 

Daí que as eleições chegaram e as redes sociais entraram em caos, no melhor estilo 'até que a polêmica do Kit Gay nos separe'. As pessoas perderam a mão e nos permitiram ver um lado sombrio e bem preconceituoso. Muita gente usando discurso contra a corrupção (seletiva, se for o candidato que apoia, tudo bem) e em nome da moral e dos bons costumes, amém! Passaram a tratar a situação como torcida organizada de político, no jogo onde quem perde é o povo. 

É inevitável não ter um lado! É saudável que se tenha. Eu tenho e não escondo! Não consigo achar normal apoiar uma pessoa que ameaça a existência e os direitos do outro, inclusive, os meus como mulher. 

Em meio ao pandemônio formado, prometi pra mim que não entraria em nenhuma discussão com gente que só repete o que lê em grupo de WhatsApp e redes sociais. Defende político como se fosse ganhar no grito, com pontuação para a torcida mais energética. 

Saí do grupo da família e evito o Facebook sempre que possível. Mas aí que esses dias eu acabei iniciando um caloroso bate papo com uma pessoa semi bêbada.  Me arrependi amargamente disso porque não tinha reparado o grau e, quando comecei, achei que seria uma troca de ideia mais coerente, e não que ouviria coisa tipo "você acha mesmo que ele vai matar ‘viado’?". Parei porque minha paz interna vale mais, muito mais.

Amigos, sejamos mais empáticos, a vida não é só o que acontece em volta do nosso umbigo. Não é porque não sou negra, não sou gay, não sou índia, que não utilizo, hoje, os recursos sociais do governo, que devo me desligar dos direitos dessas pessoas. O mundo gira muito depressa e a gente não sabe nada sobre o amanhã. O feminismo é importante sim, e também todos os outros movimentos em prol de qualquer causa, inclusive a ambiental. Não é 'ok' abrir a Amazônia para o desmatamento. Um candidato que defende a liberação do porte de armas e que promete acabar com a militância não te dá medo?

Não defendo político e partido. Não coloco minha mão no fogo nem por gente que eu conheço. Minha bandeira é por quem vai fazer por todos, quem não incita o ódio, não me diminui por ser mulher, que garante o direito de quem tem. Acredito que prevenir é muito melhor que remediar. 

Resolvi fazer esse post depois que li, dia desses, sobre a importância da gente se posicionar nessas situações. Não consigo concordar com direcionamentos tão pesados.  É muito triste saber que, nessa altura do campeonato, há quem contribua com a possibilidade de que a história marcada com sangue se repita, mesmo consciente de que isso tem custado a paz e que poderá custar a vida de pessoas.

O voto é secreto e você tem todo o direito de votar em quem quiser, democracia que chama, né? Aproveite enquanto ela existe. Mas antes de apertar o 'Confirma' no próximo domingo, analise com carinho o que o seu candidato vai fazer por todos. Por todos! Todos mesmo. Veja se o que ele prega é o que ele faz. Busque coisas antigas, seja esperto, pois nessa época estão todos com asas de anjos imaculados. Não é difícil descobrir isso, o pai Google está aí para nos ajudar. Não se esqueça que o Estado é laico e que Deus até ajuda, mas a gente precisa fazer nossa parte.

Hoje eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude, tá em casa, guardado por Deus, contando o vil metal. Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". Belchior





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