O 'LIKE' DA VIDA REAL


No auge dos meus 10 anos, o grupo 'É o Tchan' estava estouradíssimo. Não tinha uma viva alma que não balançava a bunda aos som dos hits da banda. De segunda a segunda, eles estavam na TV. Era fácil encontrá-los também estampando todas as publicações das bancas de revista. Lembro que nessa mesma época comprei uma revista Caras que a Carla Perez estava na capa. Eu adorava a Carla Perez e a Caras era referência em mostrar tudo dos famosos; da casa às viagens passando pelo dia a dia, e claro, entrevistas com muitas revelações pessoais. Ok! Ok!

Passei semanas com essa revista embaixo do braço admirando a vida de Carla Perez. Lembro com clareza que ela tinha muitas pelúcias do Piu-Piu - que era um ícone da época - e que parecia ser a pessoa mais feliz do mundo. Aos 10 anos eu quis ter a vida de Carla Perez! A rotina da bailarina do 'Tchan' parecia ser mesmo um sonho; vivia de dançar, fazer show, ir em programas bombados,  encontrar com artistas e quando voltava pra casa ainda podia deitar em uma cama imensa cheia de 'Piu-Piu'.

A Caras nos proporcionava essa vontade de vivenciar a rotina mágica das famosas e que era relatada nas páginas da revista. Elas tinham quartos lindos, estavam sempre sorridentes e não pareciam ter problema algum. Ah! E minha vida não era nada ruim, ia pra escola, fazia curso, natação, tinha tudo que queria dentro do possível, ou seja, tava passando de ótimo para uma criança de 10 anos tá querendo a vida de Carla Perez.

Corta pra 2018, 21 anos depois. Eu, hoje, com 31 anos, às vezes me pego admirando a vida alheia no Instagram. Trocamos o folhear das páginas da revista por deslizar os dedos na tela do celular. Em um tempo em que pessoas comuns se tornaram influenciadoras digitais e ostentam padrões que não é o mesmo da maioria da população, é difícil não se encantar com a rotina, aparentemente, tão fácil das blogueiras.

Não faz muito tempo que fiz um limpa no meu perfil e deixei de seguir muita gente. Passei a acompanhar pessoas mais reais, que estão mais próximas a mim ou que não sejam tão artificiais. Deus me livre das fias que só aparecem maquiadas e falam de coisas fúteis. Tão longe do meu mundo. Ainda sigo blogueiras e influenciadores, mas só os que me identifico de alguma forma. Fiz isso depois que percebi que é muito fácil dormir triste depois de rolar o feed da rede social. A impressão de uma vida mais fácil, mais divertida, mais completa, com mais amigos, mais amor, mais tudo de melhor e mais sentido, é complicada, nem todo mundo está bem pra acompanhar.

Quando passei uma semana com a Caras pra cima e pra baixo, tinha certeza que se minha vida não fosse tão mágica e perfeita quanto a de Carla Perez parecia ser naquelas páginas, não estaria bom. Acabei deixando a revista e a Carla pra lá, eu era só uma criança e logo outra coisa chamou minha atenção.  Mas tenho clareza que passei a infância e adolescência admirando a vida perfeita das cantoras, atrizes e modelos por meio dessas publicações e dos programas de TV. Isso de achar que nossa vida tá sem graça demais perto do a gente vê por aí, não é novidade da internet.

Hoje, consigo administrar de forma mais madura esse sentimento de me achar menos feliz enquanto rolo o feed.  Mas não vou mentir, vez em quando bate aquela famigerada bad de ver que a blogueira X está no salão mais caro de São Paulo (que eu precisaria trabalhar um mês todinho para pagar), numa quarta-feira, às 15h, ou numa viagem toda patrocinada para o Caribe.  Enquanto eu, reles mortal, diva do proletariado, estou sentada em frente ao computador, tentando terminar alguma coisa que comecei, mas que acabei parando para dar aquela olhadinha marota na rede social. Fica a sensação que a vida não tá dando certo. hahahah

Não é nada contra as blogueiras ou influenciadores. Eu sou consumidoras desses conteúdos. Mas sei que a vida é muito mais do que isso, sim! A gente esquece que ali está apenas fragmentos e que, muitas vezes, pode não ser tão cor de rosa quanto aparenta. O blogueiro só posta o que lhe convém, assim como acontece comigo e com você. Hoje, fico pensando que aquele tanto de pelúcia da Carla Perez deveria acumular um monte de poeira, dar alergia; que viajar o país deveria ser muito cansativo e que pode ser que ela tivesse algum desafeto com os famosos que ela convivia sempre que estava na televisão.

A gente não tem noção do que passa verdadeiramente na vida dessas pessoas e nem mesmo o que está por trás dos cliques perfeitos.  Uma coisa é fato, qualquer vida pode ser interessante, sim! Ainda que você não esteja na sala VIP do embarque para a viagem dos sonhos, há sempre algo do que se orgulhar. Tudo é questão da forma como olha para as situações.

Façamos assim, se incomodar, se ficar tóxico, unfollow! Não há mal em admirar o que parece ser legal, mas é importante ter bom senso e filtro, afinal, por trás de cada post que te brilha os olhos, existe uma vida que ninguém vê.

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