Silvio Santos inovou quando decidiu, no ano 2000, produzir o primeiro reality show brasileiro transmitido em TV aberta. O dono do Baú apresentou aos telespectadores do SBT, 24 horas do dia a dia de celebridades que estampavam as principais capas de revistas do país. Vale lembrar que na época, internet era artigo de luxo.
Alguns desses famosos que habitaram a Casa dos Artistas, já caíram no esquecimento da curta memória dos brasileiros. No programa, Silvio mudava as regras e conduzia como bem entendia, afinal, para algo que era novo na TV Brasileira, o regulamento não era tão claro. O que não se pode esquecer é que, talvez, Bárbara Paz e Supla tenha sido nosso primeiro, sincero e verdadeiro Shipp em um reality show.
Em janeiro de 2002, a Rede Globo estreava o reality show Big Brother Brasil, o amado e odiado BBB. Já não era o primeiro reality da casa que tinha no portfólio de produções o programa No Limite. Na casa mais vigiada do Brasil, colocaram 12 anônimos, de diversas partes do Brasil e que estavam em busca de um lugarzinho ao sol e do prêmio de R$500 mil. O BBB virou um fenômeno e transformou os anônimos em estrelas da Globo, com direito aos quinze minutinhos de fama. Na época, muito mais do que os cinco - quase - segundos de hoje. O sucesso foi tanto que em meados do mesmo ano, outra edição ia ao ar.
De lá para cá, tivemos a oportunidade de acompanhar 18 edições. Vimos a transformação dos cabelos de Pedro Bial - que comandava o que chamava de Nave Mãe - de castanho escuro para Branco acinzentado. Mudamos; os cabelos, o apresentador - já que agora quem comanda a atração é o Thiago Leifert-, o programa e o público. Na primeira edição do BBB eu tinha, apenas, 15 anos.
De todas edições, perdi poucos episódios do programa; se tornou o tipo de entretenimento que me prende; pessoas comuns, tendo vidas e conflitos comuns que poderia acontecer aqui ou aí na sua casa. De alguma forma rolava identificação ou espanto por ser mundos totalmente diferentes. E ah! Nunca abandonei os livros por causa do programa.
Casa dos Artistas, BBB, No Limite, A Fazenda, Master Chef, Simple Life, O Aprendiz, Hipertensão, Mulheres Ricas, Power Couple e mais uma infinidade. São tantos que poderia fazer um post só falando sobre os participantes e os pontos negativos e positivos de cada um, com riqueza de detalhes. Embora as pessoas não consigam enxergar entretenimento nesses programas, é possível fazer reflexões do que vemos na TV.
É a vida real ali; É o grupo de pessoas que encontram um no outro o apoio para conseguir vencer a saudade de casa (Pink, Grazi e Jean no BBB 5 que protagonizaram uma das mais bonitas histórias de amizade dentro do reality); é o cara que topa se expor em prol de uma causa (No BBB11 Daniel Rolim dizia que o principal objetivo no programa era ganhar o prêmio para conseguir manter o asilo Casa do Amor); É a mulher da terceira idade que consegue conviver bem e em harmonia no meio dos jovens de forma leve e divertida (Naiá, Geralda, Harumi e Ieda, que mostraram que o estado de espirito vale muito mais do que a idade do RG); É a mulher que não aceita os olhares perversos de um homem e põe a boca no mundo (Ana Paula, BBB16, que não ficou quieta ao ver os olhares e atitudes abusivas de Laércio, que mais tarde foi preso por estupro de vulnerável); São as mulheres que apoiam a outra em situação de fragilidade (Emilly, BBB17 que ouviu sábias palavras das participantes Vivian e Ieda após a expulsão de Marcos por agressão). Uma pincelada muito superficial para dizer que o BBB ou qualquer outro reality nos mostra também a importância de ser melhor para o outro e principalmente para nós; mostra que ninguém consegue manter um personagem por muito tempo e que a vida acontece o tempo todo; um deslize e colocamos tudo a perder. Assista Master Chef e compreenda a importância de se ter coragem, paciência, perseverança e acima de tudo confiança em si mesmo.
Esqueça o fato dos realitys serem as verdadeiras galinhas dos ovos de ouro; esqueça as manipulações e os ganhadores que, muita das vezes, não são as pessoas que conquistam nossa torcida. Não há como mudar algumas situações. A verdade é que a vida é semelhante tanto aqui fora, quanto dentro de qualquer reality, que os loucos e inconsequentes existem em qualquer parte e que gente que inspira, vai nos inspirar mesmo do outro lado da tela. Em tudo é possível absorver algo. Em uma das edições do BBB, a Ieda, uma senhora de 70 anos, com alma de 30, deu uma aula sobre a vida quando falava que ainda se sente muito viva, a importância de manter a criança interior, de se cuidar, se mimar, mesmo sendo uma septuagenária. Desde os tempos de Casa dos Artistas do Silvio, o entretenimento pode nos oferecer algo, ainda que seja um exemplo ruim de como não ser ou fazer; tudo depende da forma como vamos captar a mensagem e transformar isso em algo positivo; é a escolha do ser ou não ser.
Já dizia Paulo Ricardo na música Vida Real, tema do Big Brother Brasil desde a primeira edição. "O mundo é perigoso e cheio de armadilhas de mistério e gozo, verdades e mentiras. Viver é quase um jogo, um mergulho no infinito, se souber brincar com fogo não há nada mais bonito".