UM FINAL PARA RECOMEÇAR



Começar não é fácil pra ninguém. Para um autor, o primeiro capítulo de uma novela é a oportunidade de mostrar ao público o potencial do drama. Para um artista, a escolha do repertório do disco é o primeiro passo para o sucesso. Para quem embarca para outra cidade, o primeiro dia pode ser de novas experiências. Em um date, o primeiro encontro pode definir o futuro do casal. Para um aluno recém matriculado na natação, a primeira aula pode revelar um futuro brilhante. 

Começar traz sempre um frescor. A sensação de fazer algo pela primeira vez, é única. Já reparou na infinidade de sentimentos que a gente sente uma só vez? Você pode até repetir o feito, mas nunca é igual ou na mesma intensidade. Talvez essa seja a grande graça dos começos. Quando você inicia um novo trabalho, por exemplo, nenhum outro dia é igual ao primeiro. As sensações são únicas. Nem todos os começos dão certo, alguns não passam do primeiro dia, ou do primeiro capítulo, da primeira faixa, do primeiro encontro, da primeira aula, da primeira emoção.  

Mais desafiador do que começar, é recomeçar. Quando a gente "reseta" algo, o sentimento de medo vem quase que em dobro. Se na primeira vez não foi, será que na segunda vai? Aquela sensação ardida de que o desafio não foi cumprido como deveria e, por isso, foi necessário recomeçar. A gente posterga até onde dá, empurra com a barriga, deixa pra depois, até que um dia decide fazer de novo, recomeçar. 

Sou uma pessoa que mais desiste do que insiste nos propósitos. Por conta disso, já recomecei algumas vezes. Quando a gente recomeça tem que equilibrar a vontade de fazer acontecer com o medo da frustração, de saber que pode ser que não dê certo, de novo. Qualquer projeto é sempre carregado de expectativa e acho que talvez esse seja o principal problema. A expectativa pode ser um veneno que a gente ingere sem ver. Os sentimentos de recomeçar são tão densos como os que a gente sente fazendo algo pela primeira vez. 

Hoje eu decidi recomeçar mais uma vez, sem muita expectativa, mas com vontade de fazer dar certo. Tenho pensado muito sobre a vida e tudo que vou deixando pelo caminho. Desde que começou a pandemia eu abandonei o blog. Muita coisa na cabeça, sentimentos para administrar, tudo que eu não precisava então era a obrigação de ter que escrever sobre qualquer coisa que não fosse a trabalho.

De dois anos pra cá as coisas por aqui mudaram muito. A pandemia nos prova dia após dia que a gente não tem o controle de nada e que a nossa única certeza é o hoje. Troquei de trabalho, comecei um novo desafio, conheci muita gente maravilhosa outras nem tanto, investi em mim, me afastei do que me fazia mal e criei laços com o que me faz muito bem.

A vida foi acontecendo nesse meio tempo. Escrever me traz uma sensação de conforto. É o abraço quentinho em dias frios, a água gelada em dias de calor. Sempre quando termino um texto tô melhor do que quando comecei. São dois que parei com esse sentimento por aqui.

Decidi recomeçar, aos poucos, com boas expectativas e sem obrigações. O blog é um projeto que começou em 2017. A vida era outra, os sonhos, as expectativas, os medos, todos eram outros. Máscara era equipamento hospitalar interno e eu tinha pouca fé no futuro. Bizarro, né? Precisei dar uma pausa por aqui porque a vida exigiu demais. Nem tudo vai como a gente espera e aí a gente recalcula a rota e segue.  Já dizia Bráulio Bessa, "... é preciso de um final pra poder recomeçar, como é preciso cair para poder se levantar". Decidi voltar e espero ter muito o que falar. Nos vemos em breve!


 

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