TEORIA DO POTINHO PRA VIDA


Morei durante 15 anos na mesma rua, em casas diferentes, mas na mesma rua. Não preciso nem dizer o quanto eu amava aquele lugar e que, claro, conhecia todos os vizinhos. Nesse tempo, muitos deles se mudaram, outros novos chegaram e a vida seguiu.

Com os vizinhos que tínhamos mais intimidade, havia uma troca de coisas gostosas de comer muito comum por aqui. Não sei se é costume de gente do interior. Quando fazia coisas saborosas em casa, levávamos para a vizinha e quando a vizinha fazia coisas gostosas, ela levava lá em casa.

Sem que nada fosse dito entre as partes, uma regra era seguida a risca: Sempre que alguma coisa gostosa era enviada à casa do vizinho, essa coisa precisava ir em um refratário da casa de quem estava enviando. Assim, o vizinho devolvia o nosso refratário e trazia uma quitanda no dele, não necessariamente no mesmo dia. Ia bolo, voltava pão de queijo, ia canjica com amendoim, voltava broas, ia uma lasanha, voltava uma torta. E assim por diante. Uma reciprocidade culinária de dar gosto!

Claramente, isso gerou muitas risadas em casa. Sempre que minha mãe ia enviar um pouco de algo gostoso que ela tinha feito à vizinha, eu soltava um: "Manda na vasilha de casa, pra ela devolver com coisa gostosa" e minha mãe respondia de lá "Que isso, menina!", repreendendo meu comentário com visão estrategista. Claro que tudo isso se tornou uma grande brincadeira, mas uma coisa é certa, tudo que ia, voltava... os potes e as gostosuras.

Quando mudamos dessa rua, a nossa nova vizinha tinha o costume de fazer essas trocas saborosas, o que nos deixou muito felizes em continuar essa tradição saborosíssima. Depois dessa casa, viemos para cá onde moramos atualmente e, embora não tenha tantas casas na redondeza por ser uma área mais comercial, a única vizinha que temos contato, não sabe cozinhar. Fuêin. Talvez seja uma longa pausa na troca de delícias, mas ainda assim, vez ou outra, minha mãe manda uns refratários recheados para lá. Sempre voltam vazios, é bem verdade, mas tudo bem também.

Esses dias pensando nisso, fiquei rindo sozinha e fazendo umas associações quanto as vivências. Desenvolvendo uma teoria de que bom mesmo seria se as trocas da vida fossem sempre correspondidas assim, né? Das gostosuras às atitudes. Já pensou você se dedicar à alguém e receber uma dedicação fresquinha de volta? Ô delícia de reciprocidade. Precisa nem devolver os potes, só o conteúdo, bastaria!



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